Pierre Moreau sexta-feira, 11 de junho de 2021
Ao longo da minha trajetória de relacionamento com repórteres, editores e diretores de redação, por diversos motivos e razões, acabei conhecendo, estreitando laços, além de, claro, discordando – algo que acontecia frequentemente. Exponho abaixo 10 pontos de atenção para relacionamento profissional entre advogados e jornalistas. 1) Ao vir a público, independente da situação, é necessário ter em mente, sobretudo, zelo pela imagem do cliente e a pela sua própria imagem, inclusive para o escritório em que atua. As mídias podem ser veículos para estratégias jurídicas, sempre respeitando o sigilo do cliente e as demais regras estabelecidas junto ao Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB e Código de Ética e Disciplina da OAB, uma vez que o advogado é porta-voz dos casos judiciais que cuida e quando se comunica na imprensa deve agir com parcimônia e cuidado. 2) Bem ou mal, quando um advogado dá sua voz para se expor por um cliente em frente às câmaras, está ali pela paridade de armas, para que, mesmo minimamente, um argumento de defesa ganhe atenção. Mesmo que a opinião pública seja influenciada para ter visão turva sobre a advocacia, deve-se ter claro que a responsabilidade é para com o direito de acesso à justiça e o direito de defesa. 3) É comum falar coisas certas da forma errada, permitindo que o trecho selecionado das declarações seja o que menos interessa ao caso. O tempo para entrevista é comprimido pelos fatos e pressa da mídia. Se de um lado isso sinaliza que o advogado precisa estar mais bem capacitado para entrevistas, demonstra possível problema no foco da cobertura e isso precisa ser administrado nessa relação. 4) Suspeitas são mostradas como fatos e evidências, como provas insofismáveis. Sem tempo para checar a lógica do que se apresenta, embarca-se numa linha de acusação. São excepcionais as situações em que teses de culpabilidade são checadas e têm revistas as informações apresentadas ao público. A imprensa é usada como cadafalso de sumária execução pública. Para o direito de defesa, a cobertura em grande escala da imprensa de casos rumorosos nos últimos anos, demonstra deterioração da capacidade de apurar informações, limitando-se em reproduzir o modus narrandi de uma “fonte oficial”. 5) Casos de grande repercussão atendidos por um advogado muitas vezes interessam à imprensa. Nesses casos, os cuidados devem ser redobrados, por tratarem de disputas entre partes, mudando apenas o grau de interesse do público. Quando existe público, existe nível de audiência potencial e é isso que o repórter fareja. Se você estiver com um desses casos, os profissionais encarregados de cobrir o assunto farão de tudo para estarem contigo. 6) Esta condição de fonte natural deve ser sempre lembrada. Mesmo que criem laços de amizade, antes de ser seu amigo, ele é jornalista. Se por acaso ele já era seu amigo e depois virou jornalista, pior, ele te conhece e sabe do que você gosta. Tem perfeita noção dos seus pontos fracos. E se ele for jornalista de verdade, vai usar isso a favor do próprio trabalho. 7) O repórter pergunta o que precisa ser perguntado, a fim de apurar muito bem o que vai ser informado aos seus leitores. O advogado sempre vai expor o que precisa ser argumentado no caso em que atua. 8) Nas entrevistas, independente de formato e do grau de tensão – se estiver em meio a caso rumoroso -, existem três regras que devemos sempre lembrar. A primeira está neste adágio do político Hubert Humphrey: “Há sempre um risco ao falar com a imprensa, ela certamente reproduzirá o que você diz”. A segunda: Dar entrevista é transferir a propriedade da informação. E por fim, a terceira e ainda mais importante: Nunca use off-the-record com jornalistas – jamais conte algo que não é para ser publicado. 9) Válidos esses três pilares, como conduzir uma necessária e desejável relação com imprensa? Por que se deve fazer isso? A resposta é pragmática. Por ser inevitável. Apesar das informações sobre desertos de notícias em nosso país, das pressões de mercado que reduzem oficinas de notícias, plataformas digitais se multiplicam e as pessoas se tornam mídias na medida em que têm público (seguidores) que acompanha o que escrevem. Como é impossível adaptar discurso para tantos formatos de mídia, você deve estar preparado sobre o que não fazer e o que deve ser feito antes, durante e depois da conversa com jornalistas. 10) Sucessão de longos grandes escândalos dos últimos 20 anos e a intensificação de disputas entre corporações por via assimétrica de inteligência corporativa também indicam que devemos ter cuidado com profissionais da imprensa que podem estar com um advogado corporativo para – através até de entrevista simulada – apurar muito mais do que vai publicar. Ter a orientação de profissionais experientes, independente das grandes corporações, pode minimizar este problema.