Organizado pelo advogado Pierre Moreau, o livro reúne contos inéditos de ex-ministros como Eros Grau (STF); José Gregori (Justiça); e Miguel Reale Junior (Justiça); Eduardo Muylaert; Luis Francisco Carvalho Filho; Luis Kignel; José Alexandre Tavares Guerreiro; José Renato Nalini; Denis Borges Barbosa; Luciana Gerbovic; Luis Francisco Carvalho Filho; Luis Kignel; e Marcelo S. Barbosa; além do próprio Moreau.
Literatura e Direito é uma combinação que já produziu grandes clássicos e imortalizou vários autores. As Letras da Lei, lançado há três semanas em São Paulo, não tem essa ambição, embora reúna um conjunto de nomes consagrados, com carreiras jurídicas bem sucedidas e que têm em comum, entre outras afinidades, o prazer de escrever e boas histórias para compor. Organizado pelo advogado Pierre Moreau, o livro reúne contos inéditos de ex-ministros como Eros Grau (STF); José Gregori (Justiça); e Miguel Reale Junior (Justiça); Eduardo Muylaert; Luis Francisco Carvalho Filho; Luis Kignel; José Alexandre Tavares Guerreiro; José Renato Nalini; Denis Borges Barbosa; Luciana Gerbovic; Luis Francisco Carvalho Filho; Luis Kignel; e Marcelo S. Barbosa; além do próprio Moreau. Do grupo, a advogada Luciana Gerbovic é a única mulher e faz sua estreia no gênero literário. Outono, o conto escrito por ela, ambientando no fórum, retrata a angústia e os dilemas enfrentados por um casal de advogados momentos antes da assinatura do divórcio.
O livro é uma curiosa mistura que tangencia a lei, “mas com uma linguagem diferente e com a liberdade da ficção”, define Muyalert, ex-secretário da Justiça e da Segurança Pública do Estado de São Paulo e ex-presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, em Brasília. No encontro de amigos, transformado em livro, Muyalert teve dupla missão: além de contribuir com O Número 36, inspirado pela Paris dos anos 60, ficou responsável pelas fotos que ilustram o livro, outra de suas paixões antigas.
Acostumados a produzir textos fechados em significados e interpretações, a literatura abre para os autores a possibilidade de novas experiências, explica Pierre Moreau na apresentação do livro. Entre as vantagens da ficção, ele destaca a liberdade da escrita. “No livro não somos reféns do sigilo, do tempo, da precisão. Aqui, somos apenas devotos das palavras no que elas têm de dual e volátil, na beleza de seu significado amplo, na variedade de sons que revelam contos”, afirma.
Os doze contos percorrem diferentes caminhos. As histórias são fictícias, asseguram os autores, mas fica claro para o leitor que boa parte delas tem como base elementos reais, colhidos no próprio universo profissional de cada um. Corregedor-geral da Justiça em São Paulo, o desembargador José Renato Nalini aborda, por exemplo, a trajetória de um ambicioso magistrado, “pessoa quase normal”, que não poupa esforços em busca de poder e prestígio. Especialista em Direito Societário e mestre pela Columbia University School Law, Marcelo S. Barbosa segue pela mesma trilha ao reconstituir o ambiente de intrigas e rivalidades presentes no fictício escritório criado por ele.
Não é diferente com José Gregori, nome definitivamente ligado à defesa dos direitos humanos, dentro e fora do país, que narra a trajetória de Guerino, um ex-militante político torturado física e psicologicamente e que acaba sendo vítima do próprio grupo que ajudou a chegar ao poder. O viés opressivo também se sobressai na trama desenvolvida por Luis Francisco Carvalho Filho, advogado que tem no currículo uma emblemática passagem na presidência da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, na primeira metade da década passada.
Os demais autores nem sempre se valem dos mesmos atalhos e uma boa mostra da pluralidade temática e de estilos aparece em O Ombro de A., de Eros Grau, professor titular da Universidade de São Paulo e ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal. No conto, que abre a coletânea, um “magistrado quase celibatário” passa a vida tentando reencontrar a mulher que muitos anos atrás proporcionou a ele “não mais do que alguns segundos de nudez”, em um gesto sensual marcado pela mais absoluta casualidade. Enquanto procura, o personagem criado pelo autor imagina como tudo teria sido diferente se tivesse rompido o infinito, no caso não a mais do que “três palmos de distância”.