Hopi Hari: credores terão de decidir se parque será vendido a investidores Beto Carrero e Playcenter estão entre os potenciais compradores. Outra alternativa é seguir com o plano da recuperação judicial O grupo de investidores e concorrentes fez uma oferta de compra que inclui a quitação da dívida do parque e prevê investimentos milionários para a recuperação da atração (Hopi Hari/Divulgação) Os credores do Hopi Hari, parque de diversões localizado a 72 quilômetros de São Paulo, na cidade de Vinhedo, terão 30 dias para analisar uma proposta de venda da atração a um grupo de investidores, que inclui concorrentes como Beto Carrero World e Playcenter, ou se seguem com o plano de recuperação judicial, que se arrasta há cinco anos e ainda não tem uma versão definitiva. O juiz Fábio Marcelo Holanda, da comarca de Vinhedo, determinou nesta segunda-feira que a assembleia de credores, que aconteceria na quarta, seja postergada por um mês para que os credores tenham acesso à proposta de compra do parque apresentada pelo grupo, bem como aos dados que “são essenciais para a compreensão da real situação do passivo da recuperanda”, escreveu o juiz em seu despacho. Na semana passada, o grupo de investidores e concorrentes, que incluem também o parque aquático Wet’n Wild, empresas do ramo imobiliário, como a Senpar, e do segmento financeiro, como a RTSC e KR Capital, fez uma oferta de compra que inclui a quitação da dívida do parque e prevê investimentos de mais de 150 milhões de reais para a recuperação da atração. Segundo a proposta desse grupo, as dívidas trabalhistas poderiam ser quitadas em 60 dias. Em nota, os investidores afirmam que o grupo é formado por empreendedores e investidores que fomentam o turismo nacional. Seu interesse é no desenvolvimento econômico dos quatro municípios que integrarão o distrito turístico de Serra Azul, que será lançado no próximo dia 29 pelo governo de São Paulo, e visa atrair investimentos e fazer com que a região se torne um dos principais destinos turísticos da América do Sul. Há planos para construção de empreendimentos imobiliários, com campo de golfe. A região também já tem um outlet que atrai público, além do próprio parque aquático Wet’n Wild. “E, neste sentido, visando evitar a possível falência do parque, o grupo foca em adquiri-lo em completo alinhamento com os credores, prezando pela saúde financeira e perenidade do Hopi Hari, o que inclui a quitação de dívidas e passivos tributários e recolhimento de tributos”, diz a nota. O presidente do Hopi Hari, Alexandre Rodrigues, avaliou a proposta de compra do parque como uma tentativa de gerar insegurança nos credores, às vésperas da data inicial da assembleia que analisaria um aditivo ao plano de recuperação prevendo o pagamento das dívidas também aos maiores credores. O BNDES é o maior credor do Hopi Hari com 90% dos débitos. Rodrigues disse que a proposta de compra foi feita por concorrentes diretos do Hopi Hari no ramo de entretenimento, o que levanta dúvidas sobre suas verdadeiras intenções. “Essa oferta foi feita de forma imprudente, para trazer insegurança aos credores”, disse Rodrigues, que diz que a dívida do parque é de 500 milhões de reais. Ele acrescenta que não há legitimidade na proposta, já que nenhuma das empresas do grupo interessado está nos autos como detentora de créditos. O Hopi Hari anunciou, no final de semana, que tem um acordo com a Whitehall & Company LLC, um banco de investimentos americano para utilizar uma linha de crédito de 500 milhões de dólares (2,8 bilhões de reais) se necessário. Os recursos, diz nota divulgada pelo Hopi Hari, podem ser usados para reestruturação e retomada da expansão do parque. Segundo o Hopi Hari, o acordo dá tranquilidade financeira no cumprimento de seu plano de recuperação judicial. “Essa linha de crédito só será usada em caso de necessidade”, garantiu Rodrigues. O Advogado Pierre Moreau, do Moreau Valverde Advogados e professor do Insper, diz que toda alternativa que sinalize uma alternativa a uma companhia em recuperação judicial precisa ser analisada “já que os credores devem sempre refletir sobre o que é melhor para a empresa”. Moreau afirma que a falência é sempre a pior alternativa para a empresa. Assim como todo o setor de entretenimento, o Hopi Hari também foi afetado pela pandemia. O parque fechou ano passado e só reabriu em abril deste ano. Está funcionando com 60% da capacidade total, que é de 26 mil pessoas. Fundado em 1999, o Hopi Hari surgiu com a ideia de ser uma alternativa em São Paulo ao Beto Carrero World, parque localizado em Santa Catarina. Foi erguido com recursos da gestora de private equity GP Investimentos e de quatro fundos de pensão – Previ, Funcef, Petros e Sistel, que acabaram passando o negócio adiante já que o lucro não veio. Depois, a empresa passou por outras mudanças de controlador e só começou a ficar no azul a partir de 2011, embora as dívidas acumuladas, inclusive com o Fisco, fossem elevadas. Em 2012, o parque sofreu seu maior baque após uma adolescente de 14 anos morrer ao cair da “Torre Eiffel”, um elevador de 69,5 metros de altura. Com o acidente, o Hopi Hari passou um mês fechado, o público reduziu e o parque voltou ao vermelho, com um prejuízo de cerca de R$ 90 milhões naquele ano. A imagem do Hopi Hari ficou bastante arranhada após o episódio e, em 2016, veio o pedido de recuperação judicial.